Espinhaço dos Sonhos
35 km
TRANSAMANTE
Esse caminho liga os Municípios Congonhas do Norte-MG e Santana do Riacho-MG na Serra do Cipó e é cabeceira dos afluentes que desaguam do rio de mesmo nome. Foram 35 km no cume da Serra do Espinhaço. Essa estrada foi interditada pela justiça e é proibido seu uso por veículos motorizados. Conhecida e apelidada pelos ambientalistas como "Transamante".
Na casa de Davi em Extrema nos foi servido um jantar onde também pernoitamos de sábado para domingo. Ficou acertado com seu irmão Elias, que sairíamos no domingo pela manhã.
Logo após o café da manhã chega o Elias com a tropa de burros. Ajeitamos nossas tralhas nos animais. Nosso grupo era composto por quatro pessoas : Maria Caseca(SP), Bernardo Magalhães (Diamtanina-MG), Afrânio Gomes (Gouveia-MG) e o guia Elias, natural de Extrema. Dois animais de sela e um com cangalha. Despedimos do Davi e partimos as 8:30 h. Era dia 5 de setembro de 2010, domingo.
O dia estava muito bonito, céu completamente azul. O ar muito seco e pouca agua nesses primeiros 20 km..
Na metade da subida a estrada passa por uma floresta densa, aliviando um pouco aquele incomodo ar seco.
No inicio enfrentamos uma longa subida até atingirmos o cume do Espinhaço. Lá no alto a temperatura caiu um pouco e tornando a caminhada muito agradável. Avistamos longas distâncias: o Pico Itambé a nossa esquerda e, em frente, o Pico do Breu na Lapinha.
Aproveitando a linda paisagem que começava a se mostrar, tiramos umas fotos.
Uma observação: fiquei um pouco contrariado pois tinha esquecido a minha câmera em Gouveia. Ainda bem que o Bernardo trouxe a sua.
O que observei é que ainda restam matas nativas nos cumes das montanhas.
Sentamos a sombra dessas árvores para fazermos um lanche e descansar um pouco. Um dado interessante é que comemos em demasia durante as viagens. Será psicológico ?
Passamos agora por um campo de sempre vivas e flores que predominam os campos altos do Espinhaço. Já estávamos nos aproximando do Rio de Pedras
Esse ponto é o trecho mais alto do caminho, a altitude aqui passa dos 1400 metros. Observamos longas distancias e pontos de incêndios por todos os lados.
Vejam o poder de destruição de uma estrada. As margens do Rio de Pedras encontramos essa voçorocas "Valos", com mais de 500 metros de extensão. A estrada se transforma em verdadeiras calhas de enxurradas provocando erosão nesse solo de areia. Com o aumento de circulação de pessoas esses caminhos e trilhas vão se alastrando como pragas.
A exatamente 21 km de Extrema chegamos ao Rio de Pedras onde acampamos e pernoitamos de domingo para segunda feira .
Passamos uma noite com muita claridade provocada pelos incêndios a nossa volta. Nós nos sentíamos preocupados com medo do fogo chegar até o acampamento. Essas queimadas, tenho certeza não são combustão espontânea. São provocadas na sua maioria por criadores de animais. Esse crime é muito difícil de se apurar os responsáveis mas a justiça deveria encontrar uma formula de coibir essa prática.
Esse rio tem uma mata ciliar bem preservada e florida e é um dos principais afluentes do Rio Cipó.
O dia amanheceu muito nublado e fazia frio. Levantamos tão logo amanheceu. O Elias acendeu a fogueira para esquentar o corpo. O Bernardo preparava nossa primeira refeição . Maçãs, bananas, café, leite, pão, mingau de aveia e granola.
O sol saiu depois das nove e o céu ficou azul por completo. Ficamos sabendo que a Lapinha da Serra estava lotada de turistas nesses dias de feriado. Preferimos então caminhar apenas 9 km nesse dia e acampar mais distante possível do povoado evitando assim a multidão.
Em toda área próxima a Lapinha é proibido acampar. Fomos pedir ajuda ao Sr. Raimundo. Ele nos acolheu muito bem e toda sua família. Sua casa fica a 5 km do centro da Lapinha. Também nos autorizou a armar barracas em suas terras e soltar a tropa de burros em seu pasto.
A tardinha chegou ao acampamento o Sr. Betim filho do proprietário. Logo mais a noite o Sr. Raimundo nos visitou e nos deu uma prosa. Ele tinha uma maneira muito curiosa de falar. Jogava os ombros pra trás e balançava o corpo para os lados. Nos contou com detalhes a construção da estrada na serra. Vários processos movidos pelos ambientalistas, multas que ninguém pagou ao que me consta. "Mundico", como é conhecido na região foi vereador nessa época e por quatro mandatos. No momento a estrada é considerada ilegal e está interditada. Os mesmos ecologistas que a condenam usam essa mesma estrada com seus jipes 4x4. Particularmente acho isso contraditório. Aquela velha frase. "Façam o que eu digo mas não o que eu faço".
No outro dia despedimos do Sr. Mundico e família. Seguimos por um atalho ao pé da Serra. É uma estrada paralela à principal de 5 km de extensão, completamente inútil. Havia mais erosão e destruição, manilhas jogadas pra todo lado, enfim dinheiro publico jogado no lixo.
O Elias se adiantou, e quando chegamos na Lapinha ele já tinha descarregado nossas tralhas e os burros já estavam literalmente na sombra.
Os turistas que a visitaram no feriado já tinham ido embora. Para nossa surpresa o povoando já estava limpo e livre do todo o lixo deixado pelos visitantes. Um funcionário da prefeitura de Santana nos disse que o lixo seria recolhido na quinta feira. O curioso é que não vimos onde esse lixo estava acondicionado. Parabéns aos moradores de Lapinha e a Prefeitura de Santana do Riacho.
Não estávamos tão seguros quanto ao transporte de volta. Bernardo ligou para sua esposa e constatou que ela já estava a caminho para nos pegar. Ficamos muito felizes quando a Fabiana chegou dirigindo a sua confortável Land Rover acompanhada de seu filho Manu. Almoçamos e retornamos a Gouveia.
Apesar de toda seca e incêndios no auto da serra a represa da Lapinha ainda tinha agua.
Era um sonho antigo fazer esse caminho. Era o elo que faltava para irmos de Belo Horizonte a Diamantina em linha reta. Não foi a época ideal. Pretendemos refazer esse mesmo caminho em outra ocasião após as primeiras chuvas.
Fizemos o caminho de volta de carro passando pela Fazenda do Inhame e Fechados ao pé da Serra do Espinhaço, Ficamos combinados que vamos explorar aquela região numa próxima oportunidade.
Rango... Um capítulo à parte
“Homem quando vai acampar, só leva Miojo!!!”
Fui para a caminhada com essa frase na cabeça, (que ouvi de minha filha). Para me garantir levei um pouco de granola e banana passa.
Já no primeiro café da manhã ainda na cozinha em Extrema, Bernardo preparou um belo mingau de aveia, e para completar, Afrânio tira da mochila, bananas frescas. De tão surpresa exclamei: Nossa!!! Banana, banana mesmo? Claro que virou a piada da caminhada.
Já na primeira parada para um lanchinho, eu já pensando na minha granola e....Bernardo surge com uma Farofa dos Deuses....(que nos acompanhou por 2 dias)
Após armar barracas, banhos tomados, chega a hora do rango.
Aí sim caí do cavalo. Nosso Cheff Bernardo nos brindou com nada menos que Bacalhau com legumes preparado no azeite acompanhado de arroz. Sobremesa: “Romeu e Julieta”
Assim foi... Café preparado em cafeteira italiana, leite (quente ou frio) com granola, sopa de legumes, farofa, maçã (maçã,maçã mesmo).
Confesso que apesar de ter caminhado uns 35km (há controvérsias), ganhei 1,5kg. Com muito prazer.
Ah, parece que cozinha é mesmo o forte do casal Fabiana e Bernardo,na volta quando nos hospedamos numa bela casa na Fazenda do Inhame, constatamos que tínhamos doado tudo que tinha sobrado de comida para nosso Guia, sobrando apenas macarrão e 2 ou 3 tomates.Eu já me preparando pra dormir de barriga vazia e eis que Fabiana mexe e remexe na cozinha e nos brinda com um delicioso macarrão com tomates fritos. Milagre desse, nem Jesus Cristo.
por Maria Caseca
FIM